Páginas

sexta-feira, 30 de abril de 2010

REGIMENTO DE INFANTARIA 8 - Braga - (Interregno - o Bart 741 continua em Maio)

Em recente arrumação de uma gaveta, dei com as fotografias que publico neste postal. Datam de Abril de 1964, isto é, de há 46 anos! Retratam, em duas ocasiões diferentes embora próximas, alguns oficiais do, então, Regimento de Infantaria 8, em Braga, onde fui colocado findo que foi o meu Curso de Oficiais Milicianos.

Em pé, da esquerda para a direita: AspOfMilMédico (cujo nome não recordo), AspOfMil(Ferraz, salvo erro), AspOfMilAdMil Pinto (que foi meu condiscípulo, e, mais tarde, colega bancário), o autor do blogue, Major Magalhães, Director de Instrução, já falecido, que, algumas vezes, ainda tive o gosto de rever, no Porto, AspOfMilInf Melo, AspOfMilCav(cujo nome também me não recordo), AspOfMilInf Almeida e Silva, AspOfMilInf Torres e AspOfMilInf Góis (que voltei a ver uma única vez, já em Angola, no Regimento de Infantaria de Luanda.
Sentados, da esquerda para a direita: AspOfMilInf Aparício e AspOfMilInf Neves da Silva.

Não resisti à tentação de as publicar e, disso, quero pedir desculpa a quantos me honram visitando este blogue, já que nada têm a ver com o BArt741. Alguma vaidade, confesso, esteve na origem da decisão. Mas foi sobretudo, o orgulho! O orgulho de ter feito parte deste grupo de jovens oficiais, cujo entusiasmo pela vida que iniciavam ainda hoje me comove! Orgulho da farda que envergávamos e de tudo quanto ela, para nós, representava!

AspOfMilInf Neves da Silva, AspOfMilInf Almeida e Silva, AspOfMilAdMil Pinto, AspOfMilInf Torres, AspOfMilInf Aparício, AspOfMilCav (??) e o autor do blogue.

VETERANO

sexta-feira, 23 de abril de 2010

In Memoriam --- 07 - Ten.Cel. Mário Martins Cabrita Gil

Conheci o Comandante do nosso BART 741 já em Angola.
O avião que me levou ao Tôto sofrera vários atrasos durante o percurso e só lá aterrou ao fim da tarde. Todos os oficiais se encontravam em operações, com excepção do Alferes-Médico Dr. Terrinha, que comandava o quartel. E, logo no dia seguinte, eu próprio saí para prestar apoio aos pelotões em operações. Somente após o regresso foi possível deslocar-me ao Vale do Loje para me apresentar, de conformidade com os Regulamentos Militares. E foi essa a primeira vez que o vi.
De várias situações vividas com a presença do Cel. Cabrita Gil me lembro eu e, com certeza, terei, mais tarde ou mais cedo, oportunidade de as contar. Mas, desta vez, trata-se de deixar aqui uma referência mais pessoal e, por isso, solicitei do meu Estimado Amigo TenCel. Nuno Anselmo, que o conheceu bem, as palavras que se justificam para este postal "In Memoriam".


Conheci o Tenente-coronel Cabrita Gil, na Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas em OUTUBRO de 1962, quando após ter terminado o Curso na Academia Militar, nos apresentamos na Escola Pratica para efectuarmos o respectivo tirocínio.
Estávamos (eu e os restantes 21 elementos do curso), já bastante fartos de sermos alunos e o que queríamos era finalmente iniciar a carreira militar que tínhamos escolhido.
Mas faltava aquela etapa que ainda tínhamos que cumprir….
Durante a Academia Militar ensinaram-nos a Comandar quase todos os tipos de Unidades, mas esqueceram-se de nos ensinar a Comandar Soldados….
O então Major de Artilharia Cabrita Gil, foi o meu Director de Instrução, durante o tirocínio e como tal o responsável pela nossa preparação prática como futuros Oficiais de Artilharia.
Por um lado sabíamos que iríamos para o Ultramar logo que terminado o curso, possivelmente como Infantaria, mas durante o tirocínio, mantivemos a preparação como futuros Oficiais de Artilharia.
Não estarei a mentir, se disser, que dei muitos mais tiros de artilharia durante o tirocínio, do que de espingarda, pistola ou pistola-metralhadora.
Como vivíamos todos no quartel foi possível aperceber, pela convivência, que o Major Cabrita Gil era um profissional dedicado e extremamente preocupado com as suas funções.
Apesar da preocupação principal ser a formação técnica de Artilharia, foi lá que pela primeira vez me colocaram em frente a um pelotão de soldados para dar instrução de ordem unida (ainda me lembro e muito bem dessa hora e das bocas dos soldados desse pelotão …) e foi lá que igualmente aprendi a transmitir aos outros os conhecimentos indispensáveis para a sobrevivência no campo de batalha. Até então limitara-me a aprender. Ensinar é um pouco mais difícil.
O Director de Instrução era presença constante nas nossas instruções, nas salas de aula ou no campo, sinal de que se encontrava totalmente empenhado no cumprimento da sua missão.
Estávamos em 1962 e um Major Director de Instrução era um senhor e os Aspirantes tirocinantes estavam ali para aprender e mais nada, pois a guerra esperava-os em breve….
Portanto, o nosso relacionamento só deu para constatar o profissionalismo e o grande empenho que dedicava no cumprimento das suas funções.
A parte do tirocínio em Vendas Novas terminou em ABRIL de 1963, depois fomos para o CIAAC completar a formação artilheira em Antiaérea e Costa. Nessa altura perdi o contacto com o Major Cabrita Gil, que recomeçou alguns dias antes de embarcarmos para Angola em 9JAN1965 (sujeito a confirmação pois julgo que embora não tenha estado presente durante a formação do BART 741, por ser 2º Comandante dum B.ART que estava em Zala / Angola, terá aparecido no RALIS para embarcar connosco).

O Ten Coronel Cabrita Gil desde o início do seu contacto pessoal com o Bart 741, sempre enalteceu os seus militares especialmente os seus capitães. Embora não tivesse acompanhado em pessoa a preparação do Batalhão (era 2º CMDT do BART que estava em Zala em Angola), acompanhou, dentro das possibilidades de contacto existentes em Portugal naquela época (OUT 1964), a instrução, a preparação e a preocupação que os oficiais do Comando do Batalhão e das Companhias, incluindo a CCS, iam desenvolvendo na formação do BART 741.
Quando iniciou o Comando do Batalhão, consciente do nível de preparação do seu pessoal e tendo uma experiência de um ano como 2º Comandante de um BART cujo comando era em Zala uma das localidades mais perigosas na altura em Angola, começou logo a congeminar a melhor maneira de o SEU BATALHÃO cumprir a Missão.
No Colonato do Vale do Loge onde se encontrava sediado o Comando do Batalhão, apenas se encontrava a CCS (Companhia de Comando e Serviços) e os 2 Pelotões de Reforço ao BART 741 (Pel. Morteiros 897 – Alf Mil Sá e o Pel. Caçadores 967 – Alf. Mil Navega.
Na CCS existiam apenas 2 Pelotões operacionais – o Pel.Rec.Informações e o Pel Sapadores.
Sendo eu, Alferes Anselmo, o Comandante do PEL.REC.INF, Oficial do Quadro Permanente e que após ter sido mobilizado para Angola tinha sido nomeado para frequentar o Curso de Operações Especiais, curso que completei, naturalmente fui muito bem aproveitado, bem como todo o pessoal do PEL.REC., pelo Comandante de Batalhão, para cumprir todas as missões na Zona de Acção da CCS, em especial ao longo do muito sinuoso Rio Loge e do não menos famoso Monte CAU, que percorremos a pé a todo o seu cumprimento e largura, para além das que isoladamente ou com outros Pelotões cumprimos na zona de acção do SUBSECTOR 1.

Sempre que o Comando do Batalhão conseguia o apoio da Força Aérea para efectuar reconhecimentos aéreos, o T.Cor Cabrita Gil logo que pressentia a vinda dos meios aéreos pegava no Jeep que se encontrava junto ao Comando e dirigia-se para a pista existente e lá ia sozinho ou acompanhado (pelo menos uma vez fui com ele) fazer o reconhecimento aéreo.
Aliás, sempre que possível, ele acompanhava as operações a nível companhia ou por ele directamente determinadas recorrendo aos meios aéreos disponíveis, preocupando-se muito com a evolução das mesmas.
Foi aliás numa dessas operações, onde o PEL.REC. tomou parte que, durante quase um dia inteiro passou por cima do Pelotão pedindo-nos informações e a nossa localização.
A sua insistência em saber onde se encontrava o PEL.REC. levou-o, uma das vezes a achar estranho que a nossa localização fosse, passadas 2 ou 3 horas, muito próxima da anterior e a criticar o comportamento do Pelotão. Como nos encontrávamos no Monte CAU cuja orografia é por mais conhecida como muito irregular, eu pessoalmente e via rádio convidei-o a que na nossa próxima saída, ele nos acompanhasse no terreno para se aperceber como o mesmo era irregular.
Não me disse mais nada durante essa operação e passadas uma ou duas semanas, cerca das 4 horas da manhã, mandou-me chamar para irmos, o meu Pelotão e ele, para Nova Caipemba, onde se encontrava a 7ª Companhia de Caçadores da Guarnição Normal do R. Infantaria de Nova Lisboa que estava de Reforço ao SUBSECTOR 1, cujo Comandante era o Cmdt do BART 741.
Inicialmente julgava que ele iria connosco até Nova Caipemba para dar instruções ao Cmdt da Companhia – Cap. Martinho, sobre a operação que queria que fosse realizada.
Mas não, ele ia disposto a ir com o pessoal para o mato para saber como era efectivamente o terreno.
Iríamos para a Serra da Cananga, cuja orografia era em tudo semelhante ao Monte CAU. Fez o seu plano de operações e quis abordar a Cananga pela contra encosta. O Cap. Martinho informou-o que não seria boa ideia pois seríamos logo avistados assim que saíssemos das viaturas, pois até ao início da subida teríamos de andar bastante a pé e a ser observados. Manteve a dele e logo que se iniciou a subida ouviram-se os tais tiros de aviso. Começou a subida, muito difícil. A idade e possivelmente a pouca preparação física, comparada com a do pessoal do PEL.REC., do Cmdt da 7ª Comp. e seu PEL., fez com só conseguíssemos chegar ao cimo no fim da tarde após termos sofrido uma emboscada com um ferido grave no Pel da 7ª Companhia. A chuva diluviana que se abateu sobre nós, a dificuldade de naquelas condições voltarmos para trás ou seguirmos em frente e por ser ainda impossível fazer a evacuação aérea dado o local e a hora, obrigou-nos a pernoitar ali mesmo.
Dadas as dificuldades encontradas e o facto de termos de evacuar o ferido a missão foi abortada e regressámos a Nova Caipemba, no dia seguinte.
Quis ver no terreno o nosso trabalho e nunca mais achou estranho lá no alto a nossa velocidade no terreno.

Sabíamos perfeitamente no Comando do Batalhão, que passava muitas noites na Sala de Operações a trabalhar e possivelmente a congeminar operações e mantinha uma preocupação constante em que o SEU BATALHÃO cumprisse na íntegra a MISSÃO.
Nem sempre aceitava as propostas ou comentários às suas ideias ou decisões. Gostava primeiro de verificar no local e pessoalmente e só em caso de falha é que aceitava outras ideias ou sugestões.
Outra situação que mostrava alguma dificuldade em aceitar sugestões, de quem conhecia o terreno melhor do que ele, foi a seguinte.
Na estrada do Colonato para o Toto apareceu pregado num pau um documento em que alguns elementos da população que viviam isolados no Monte Cau, manifestavam a intenção de se entregarem. Pediam que os fossem buscar a um local que indicavam e que se possível, os ajudassem a transportar alguns bens que possuíam.
Aquele documento foi levado ao conhecimento do Quartel-general da Região Militar de Angola em Luanda, que manifestou muito interesse em que viessem de lá, do QG, alguns Oficiais para colaborar na operação da entrega dos elementos da população.
Claro que o PEL.REC. foi nomeado para a operação. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que, da operação iriam fazer parte todos os Oficiais que vinham do QG, (julgo que também estava o Comandante do BCAÇ 503- T.Cor Infª Ilharco), o T.Cor Cabrita Gil e não me lembro se também estaria o Oficial de Operações do BART741, Cap. Carvalho Pires.
O PEL.REC. iria limitar-se a fazer a escolta ao pessoal e a ficar junto às viaturas a aguardar que os elementos da população se entregassem ao pessoal que os iria buscar e regressassem às viaturas.
A população que se queria entregar vivia na encosta do Monte CAU virada ao Colonato e a abordagem iria ser feita na contra encosta do Monte CAU saindo as viaturas da estrada do TOTO para o SONGO e dirigindo-se para a base do Monte.
Tentei convencer o Comandante e os restantes Oficiais que com tal aparato ninguém se entregaria e que seria muito difícil ou mesmo impossível as populações atravessarem o Monte Cau com os seus haveres e entregarem-se.
Mantiveram a sua ideia e claro está que ninguém se entregou.
Passados dias voltou a aparecer outro documento no mesmo local dizendo que mantinham a vontade de se entregarem, mas que os fossem buscar com menos aparato.
Desta vez fui ouvido e lá foi o PEL.REC. cumprir mais esta missão.
Quando cheguei ao local, fui logo reconhecido pela população e alguns elementos mostraram-me que sabiam perfeitamente quem eu era e quando o PEL.REC. saía pois a saída do Colonato em direcção ao Monte CAU era perfeitamente detectada.
Quão vulneráveis nós éramos…….

Como características marcantes da personalidade do Tenente Coronel Mário Martins Cabrita Gil, direi que era um Comandante:
· Amigo e extremamente preocupado com TODO O SEU PESSOAL, sabendo chamar à atenção quando necessário, mas que elogiava, enaltecia e defendia insistentemente quando era preciso.
· Que exigia de si próprio mais do aos outros e que acima de tudo estava disposto a tudo fazer para cumprir a Missão que lhe fora confiada, no Comando do BART 741
Carnaxide 10MARÇO2010
Nuno Guilherme Catarino Anselmo
Alf Artª / PEL.REC / CCS / B.ART 741
TEN/CAP ARTº / C.ART 740 / B.ART 741

domingo, 11 de abril de 2010

Mussende Revisitado - Parte 1

Após um ano de acção no Norte de Angola, o Batalhão de Artilharia 741 foi deslocado para a Zona Centro. Coube à CArt 739, na altura sob o comando do Cap Inf Ramiro Morna do Nascimento, ocupar o aquartelamento do Calulo, tendo, no próprio dia da chegada, deslocado um Pelotão (4º. Pelotão, comandado pelo autor do blogue) para o Mussende.

O Quartel

O Mussende era uma pequena localidade num cruzamento de estradas, a principal das quais ligava Nova Lisboa (actual Huambo) a Malange. Ao longo dos tempos, a tropa que por lá passara, adaptara a quartel uma casa civil, sem proceder a grandes modificações, salvo a construção, no logradouro, de um coberto de chapa zincada para uma meia dúzia de mesas e que servia de refeitório. Ao longo desse espaço corria um pequeno regato (que desaguava num rio próximo) cuja água se usava na lavagem da roupa e em limpezas gerais. Para beber e cozinhar, o recurso era o atrelado-tanque, que saía com a frequência que se justificava, intervalando com as necessidades de recolha de lenha. O problema maior era a ausência de electricidade que nos obrigava a utilizar uns quantos “petromax” espalhados pelas divisões do “quartel”.

Em dia de carreira

Procurou-se gozar o repouso que se julgava merecido. Para além das obrigações – água e lenha, deslocações para reabastecimento e um patrulhamento diário num itinerário previamente escolhido na enorme área atribuída – jogava-se à bola, passeava-se, bebiam-se umas cervejas no café do Leitão (onde se jogava às “damas” e ao “gamão”) ou no do Escudeiro As obras que se executavam eram, apenas, as imprescindíveis à conservação do quartel. E, sempre que possível, saí-se para caçar, melhorando-se desta maneira a qualidade da alimentação.

Salvo erro, duas vezes por semana, a localidade animava-se com a paragem das camionetas de carreira. Os viajantes saíam para desentorpecer as penas e refrescarem-se nos cafés já referidos, aliás, os únicos existentes. Era uma das possibilidades de negócio dos comerciantes locais, que nos outros dias, pouco mais faziam do que trocar – era mesmo isso, trocar – fazendas e utensílios variados importados da Metrópole, pelos produtos locais que a população lhes levava.

No café do Leitão
Furriel Mouga, Furriel Ventura e Sargento Santa
Por detrás do balcão, o proprietário

Os padeiros
"Bombeiro" e Albino
Os nossos cozinheiros
Pois claro! Dávamo-nos a estes luxos!!!

Um jeep em patrulhamento
O "Compadre" repõe a água no radiador. Ao fundo, o Martins está na conversa.
Festas em honra de Santo António, orago do Mussende
O Furriel João Mouga, em primeiro plano, ao lado o civil Costa e, à sua esquerda, mas um pouco atrás, o "Maçarico" (à civil)

O 4º. Pelotão da CArt 739 passou, aqui, cerca de 4 meses, pois, em Junho, recebeu ordem de se juntar à sua Companhia – em deslocação para Nova Lisboa – a fim de, naquela cidade, embarcar nos Caminhos de Ferro de Benguela, com destino ao Lucusse, no Leste angolano.

VETERANO


«clique nas fotos, para ampliar»