Páginas

sábado, 10 de outubro de 2009

Uma Partida de Futebol Que Se Não Realizou...

«Clique na foto, para ampliar»
Gabela - Campo de Aricanga - Equipa da CArt 738

Em baixo, da esquerda para a direita: ?, 1ºCabo Resende, 1ºCabo Brandão Pacheco, ?, FurMil Vaz;
Em cima: FurMil Fonseca, Peixoto, Rebelo, AlfMil Pereira, TenCel Soares, Ten Simões da Silva, 1ºCabo Oliveira, 1ºCabo ?, Custódio

CART 739 – UMA MÁ NOTÍCIA

Os fins de semana de Maio e Junho de 1966, foram ocupados na Gabela com a realização de um torneio de futebol, com jogos disputados entre as Companhias do Batalhão. Os jogos efectuavam-se um por fim de semana - no campo da Aricanga, propriedade da ARA-Associação Recreativa do Amboim.

Aos espectadores era solicitada uma contribuição monetária, revertendo as receitas obtidas para a Casa do Soldado que, por iniciativa do Movimento Nacional Feminino, estava a ser construída no quartel, com recurso à mão de obra do pessoal da CART 738 (excepto em trabalhos que exigiam maior especialização).

Além do objectivo principal, estes encontros serviam também para uma sã confraternização dos militares que, embora pertencendo ao mesmo Batalhão, apenas tinham contactos esporádicos, atendendo às distâncias das localidades onde se encontravam instaladas as respectivas unidades.

Para um dos domingos de Junho, estava programado o encontro entre a equipa da CART 739, aquartelada no Calulo, e a da CCS, que vinha de Novo Redondo.

Lá para o meio da manhã, com a chegada das delegações visitantes, instalou-se a animação no quartel, com grupos em entusiasmadas conversas, que continuaram durante o almoço, até que, a meio da refeição, surgiu a mensagem que, de súbito, transformou o alegre convívio num triste e pesado silêncio. A delegação da CART 739 deveria regressar de imediato ao Calulo porque a Companhia tinha recebido ordem de transferência para o Leste de Angola.

Quarenta e três anos depois, ao escrever este relato, ainda sinto um arrepio na pele, como se estivesse, de novo, a viver a situação. Parecia-nos a todos – independentemente da Companhia a que pertencíamos - que estávamos a viver um pesadelo.

O almoço acabou rapidamente e os militares da CART 739, partiram de regresso à sua unidade, num ambiente de grande consternação, partilhado pelos que ficavam, sem chegarem a disputar a partida de futebol.

A fim de não defraudar os espectadores que se deslocaram ao campo, jogou em sua substituição uma equipa mais ou menos improvisada (e desmotivada) da CART 738.

Este foi um dos episódios da minha comissão de serviço em Angola que me marcou mais negativamente. E, até hoje, não consigo compreender a razão da escolha daquela Companhia, que já tinha mais de um ano de comissão no Norte, onde, de resto, tinha sido a única unidade do Batalhão a sofrer um morto em combate.

Infelizmente tal como no Norte de Angola, também no Leste aquela unidade voltaria a ser flagelada pela morte de um dos seus melhores: o Artur Santos (Palhaço), a quem o criador deste blogue já aqui homenageou num texto comovedor.

Homenagem a que me associo hoje, com um sentimento de saudade e de respeito.

Carlos Fonseca

Cart 738

Sem comentários:

Enviar um comentário