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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Viagem a Carmona - Parte 3

O resto da viagem a Carmona não teve história. Pelo menos não me recordo de qualquer incidente ou peripécia eventualmente acontecida na parte final do percurso.

Lá chegados, fiz seguir o pessoal para o local onde os nossos carpinteiros trabalhavam, com a indicação de prepararem o regresso, carregando o material acabado e demais pertences. Pela minha parte fui apresentar-me ao Comando dando conta da minha missão e solicitar a indicação de um local onde pernoitar, visto não ser possível ter tudo pronto ainda naquele dia.

Foi-nos atribuído alojamento numa espécie de loja, de chão cimentado, de um qualquer edifício ocupado pelo Exército. Não estranhámos as condições, visto estarmos habituados a dormir no chão (1) e como vínhamos providos de rações de combate, tomámos uma rápida refeição e saímos para conhecer a cidade, dispersando-nos, enquanto a noite caía rapidamente.

Por muito que me pese, não tenho qualquer lembrança de Carmona. A impressão com que fiquei, e que, ainda hoje permanece, é a de uma cidade de nítidas características coloniais, sobretudo no que respeita às suas edificações. Pude, porém, aperceber-me do grande surto de desenvolvimento, à época, resultante, creio eu, da economia em período de guerra. Talvez por não ter levado comigo a máquina fotográfica, não possuo quaisquer fotografias de Carmona.

Deixo ficar aqui um vídeo, retirado do “youTube”, que já visionei várias vezes sem encontrar o que quer que fosse que despertasse a minha memória.



Deambulando pela cidade, eu e os dois ou três camaradas que me acompanhavam, acabámos por ir parar a um pequeno bar, onde, para surpresa e satisfação nossa, encontrámos uma das visitantes regulares do Tôto. Era uma das mais gentis, mas, permita-me quem me lê que me não demore na descrição das horas subsequentes. A sua alegria foi tal que insistiu em viajar connosco, no dia seguinte, de regresso ao Tôto. Assim sucedeu, disfarçada com um camuflado que alguém lhe arranjou. Os seus pertences vieram misturados com o diverso material carregado e a passagem pelo Vale do Loge – nova apresentação ao Comando – foi feita com o devido cuidado de se deixar longe das vistas o jeep em que viajava. Logo depois chegámos ao Tôto, mas o jeep só parou junto ao habitual alojamento, na fazenda do Sr. Cid Adão.

VETERANO

(1) Penso que dormi, durante a minha comissão, muitas mais vezes no chão do que, propriamente, numa cama. Uma ocasião, no Leste de Angola, em plena cidade do Luso onde nos encontrávamos em operações à ordem do Comando da ZIL (cujo estado-maior era, à época, chefiado pelo TenCel Craveiro Lopes, filho do ex-Presidente da República) foi-nos autorizado pernoitar no Grande Hotel. Pura e simplesmente não consegui adormecer naquele colchão, demasiado mole. Deitei-me no chão, ao lado da cama, onde dormi profundamente até à manhã seguinte.

V.

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