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quarta-feira, 30 de junho de 2010
In Memoriam --- 09 - João Francisco Miranda Dias
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Marcel Bigeard
sábado, 19 de junho de 2010
O Circo Da Páscoa
Como facilmente se compreende, a componente logística era essencial para manter em funcionamento uma unidade com 163 militares, nomeadamente no que se refere ao reabastecimento de géneros alimentícios, bem como ao transporte de correio.
Pelo menos uma vez por semana a deslocação incluía uma ida ao vale do Loge, onde estava o comando do Batalhão.
As viagens eram demoradas, não só pelo mau estado da “estrada”, que piorava substancialmente durante a estação das chuvas, mas também pelo degradado parque automóvel, a que o Veterano se referiu já num dos últimos textos que aqui publicou.
Na CArt 738, os veículos estavam imobilizados na sua maioria (serviam para retirar peças para reparar avarias nos que ainda circulavam), além de serem quase todos herança da II Grande Guerra. (Em meados de 1965, recebemos Unimog's novos que vieram alterar completamente a situação).
Na sexta-feira 16 de Abril 1965, antevéspera da Páscoa, calhou-me comandar a escolta da pequena coluna de reabastecimento, constituída por um velho “jipão” e um camião GMC, da mesma época.
Esta viagem foi uma das que incluiram um salto ao Vale do Loge. A “estrada” entre o Vale do Loge e o Toto, era razoável, sobretudo se comparada com o resto do percurso.
Porém, a meio do caminho de regresso ao Toto começou a cair uma chuva diluviana que em breve transformou a via num rio, o que obrigou os condutores a diminuirem a velocidade. Talvez por isso, o motor do “jipão” começou a aquecer, o que levou o condutor a parar para ir verificar o nível de líquido do radiador. Todavia, mal tinha tirado a tampa quando uma mistura de água e vapor se elevou do radiador, levando-o a descontrolar-se e a deixar cair a referida tampa, que foi levada pela corrente.
Entretanto, quase tão depressa como começara, a chuva parou e o sol voltou. Da tampa do radiador é que não houve mais sinal, apesar das buscas intensivas que fizemos.
Ora, nestas circunstâncias, o “jipão” não podia prosseguir. Decidi então enviar a GMC ao Toto para pedir ajuda, enquanto ficava no local a aguardar.
Algum tempo depois chegou um reboque do PAD (Pelotão de Apoio Directo), que levou o “jipão” para, no quartel do Toto, remediar a situação. Entretanto, a CArt 739 já tinha enviado um rádio para Lucunga a comunicar a situação. Não me recordo dos pormenores, mas não terá sido fácil resolver o problema, que só ficou solucionado no dia seguinte, já tarde, pelo que só partimos para Lucunga no dia 18, bem cedo.
FurMil Silva, Sold Cond-Auto "Marova", Sold Morgado, Sold João Palhares (o "João da Adelaide"), Fur Mil Fonseca e Sold ????.
Era domingo de Páscoa, como já foi dito mais acima, e tive a ideia (infeliz, como se vai ver) de entrar em Lucunga comemorando, da forma possível, a data. Assim, parámos pouco antes da chegada, cortámos ramos de palmeira que foram colocados em arco nas viaturas, e entrámos no quartel gritando : “Hossana! Hossana! O Senhor ressuscitou!”
De uma maneira geral, o pessoal achou graça. Quem não achou graça nenhuma foi o capitão Rubi Marques.
E lá levei uma forte reprimenda, com o aviso de que “aquilo” não era um circo.
domingo, 13 de junho de 2010
Dulce et Decorum Est Pro Patria Mori
quinta-feira, 10 de junho de 2010
DIA DE PORTUGAL
terça-feira, 8 de junho de 2010
Passeio De Avião A Preço De Cerveja!
Como aqui já referiu o Cel Nuno Anselmo, o nosso Comandante, TenCel Cabrita Gil “pelava-se” por fazer reconhecimentos aéreos.
Um belo dia, apareceu no quartel do Tôto, vindo do aeródromo de manobra lá existente, onde aterrara após uma manhã em que andara a sobrevoar as áreas das diversas Companhias do Sector que comandava.
Obviamente, foi convidado para almoçar na nossa messe, após o que se decidiu a efectuar um “revis” (a sigla que se usava para designar os tais reconhecimentos aéreos) sobre a AIL que havia sido atribuída à CArt 739, aquando da sua chegada ao Tôto, área essa ainda mal esquadrinhada pela tropa e onde efectuávamos a maioria das operações apeadas.
O “revis” era, geralmente, feito em pequenos aviões Dornier DO 27, julgo eu que muito manobráveis e, por isso mesmo, utilizados nestes reconhecimentos. As voltas, as subidas, as descidas, as passagens a rasar o solo, tudo era facilmente executado, permitindo observações bastante pormenorizadas.
Atrevi-me a pedir ao TenCel Cabrita Gil que me levasse no “revis”, no que fui secundado por um outro camarada. O nosso Comandante acedeu sem relutância e dirigimo-nos para o aeródromo onde já nos esperava o piloto, que lá almoçara com os seus camaradas da Força Aérea. Iniciado o voo e indicada a área que pretendia observar, o TenCel Cabrita Gil abriu, o melhor que pôde, um mapa e foi dialogando com o piloto através da rádio interna (o barulho do motor era impeditivo de qualquer conversa sem aqueles meios). Concentrado no que fazia, ordenava voltas sucessivas sobre determinados locais, umas vezes à esquerda, outras à direita, as subidas e descidas que entendia convenientes, ora rasando a copa das árvores, ora, muito lá em cima, para uma observação de conjunto.
Cá atrás, nós os dois, íamos olhando o terreno pelas janelas laterais, tentando reconhecer locais por onde, eventualmente, havíamos já passado a pé. Distraído nessa observação, não dei pela indisposição do meu camarada (ficara com o lugar em que se viajava de costas) que, aflito, me tocou no ombro pedindo ajuda, fazendo sinal de que estava prestes a vomitar. Indiquei-lhe o escaparate onde se encontravam os sacos do enjoo, mas já não foi a tempo e o vómito espalhou-se pelo chão do aparelho.
Ou porque o nosso Comandante já tivesse visto tudo o que queria, ou por virtude do sucedido, regressou-se à base, onde o aparelho teve que ser devidamente lavado. Ora, mandava a tradição da Força Aérea que o “castigo” dos enjoados era o pagamento de uma grade de cerveja, circunstância a que o meu camarada não conseguiu furtar-se. Nem ao pagamento da cerveja, nem aos inúmeros comentários sarcásticos de que foi objecto!
terça-feira, 1 de junho de 2010
O Auto Das Passas
Em Lucunga, apesar de todos termos ocupações diárias, tinhamos, naturalmente, tempos livres, que eram ocupados de várias maneiras. Ouvia-se rádio, liam-se livros ou jornais que iam chegando, jogava-se futebol ou andebol (menos), conversava-se e, principalmente, jogava-se às cartas.
Os jogos mais populares eram a sueca e a lerpa. Porém, uma minoria jogava o king, a 1 centavo o ponto, com o pretexto de que assim tinha mais interesse.
O king, não sendo um jogo popular, era jogado apenas por meia dúzia de furriéis-milicianos (quatro de cada vez, claro), aos quais se juntava, com assiduidade, o alferes-miliciano médico, dr. Salazar Leite, já que nenhum dos outros oficiais era aficionado deste jogo. Penso mesmo que nenhum deles o sabia jogar.
Um dia, ao chegar para mais uma sessão de jogo, o dr. Leite informou-nos que o comandante de Companhia o tinha chamado para o repreender, ao mesmo tempo que lhe comunicava que, se persistisse naquele comportamento, lhe seria levantado um auto, em consequência do qual “apanharia uma passa”.
Tendo, de certo modo, um estatuto especial na orgânica da companhia – acho que ele próprio não se considerava bem um militar, detestando mesmo que o tratassem pelo posto, preferindo o “dr.” em vez de “alferes” – não se preocupou com a ameaça e continuou a jogar connosco até sairmos de Lucunga, sem que a ameaça se tivesse concretizado.
Porém, o episódio virou divertimento (com algum “gozo” à mistura). De cada vez que se sentava para jogar, dizia: “é desta que vou levar com o auto das passas”! Com o passar do tempo a expressão ganhou vida própria. A propósito (ou a despropósito) de qualquer coisa que parecesse sair das normas, logo algum de nós soltava o que já era um jargão, dirigido ao autor da “argolada”: “Põe-te a pau, se não ainda levas com o auto das passas”!
Carlos Fonseca
CArt 738