Teve, por Unidade mobilizadora, o Regimento de Artilharia Ligeira 1, de Lisboa. Constituído por três Companhias operacionais e uma de comando e serviços - C.ART 738, C.ART 739, C.ART 740 e CCS - desembarcou em Luanda no dia 18 de Janeiro de 1965. Regressou à Metrópole em 1967, aportando ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a 9 de Março.


sábado, 17 de dezembro de 2011

A Leste Algo de Novo...Parte 5 - A Última Operação

Posto Administrativo
As fotografias deste postal foram tiradas no decurso da última operação que realizei na Zona de Intervenção Leste. Não tenho a menor lembrança da missão atribuída nem me recordo dos objectivos que me foram fixados. Olhando as fotos, revejo, em memória, as pessoas, o local, mas muito poucos factos.

À medida que o tempo de comissão se aproximava do fim eram cada vez mais evidentes o cansaço e a saturação. O entusiasmo havia decrescido ao longo de todos aqueles meses. Dissera, uma vez, o Dr. Terrinha que estava já provado, serem os primeiros dois meses e os últimos três os mais "stressantes" das comissões, mesmo que a parte final fosse em zona de paz. Mas, ali no Leste, naquela imensidão quase deserta, era como se vivêssemos numa espécie de sonolência, em que a percepção da realidade envolvente se esbatia fortemente.
Um aspecto da localidade
Por qualquer razão que desconheço, o nome do local que me vem à memória é Alto Kuito. Procurei no Google Earth a localidade, mas não encontrei este nome. Recordo-me, apenas, que ficava para os lados de Nriquinha, bem lá nos confins do Leste angolano. Hoje, nem sequer posso garantir a certeza do nome.

Recebi, pois, uma ordem de operações, para fazer não sei já o quê. A ténue lembrança que tenho era de me deslocar àquela localidade e, a partir daí, irradiar. Com algum objectivo, certamente, mas, como disse, não recordo qual. Sei que partiram dois Grupos de Combate que, a avaliar pelo número de viaturas utilizadas (julgo que, somente, três Unimogs, um dos quais com atrelado e um Jeep), estariam bastante incompletos ( o meu, o 4º. GC e o 2º. GC, do AlfMilInf Palaio). O Alf Palaio não participou e o único graduado que me acompanhou terá sido o FurMilInf Pontes, que era do 2º. GC.
A prisão
Era suposto, tanto quanto ainda me recordo, interrogar uns presumíveis "turras" presos naquela localidade e explorar, seguidamente, as informações conseguidas.
Até à localidade nada sucedeu. Passámos por algumas povoações - a população não abandonara os quimbos, mesmo após o deflagrar das operações no Leste - sem nada acontecer de especial, salvo o constante atascamento, até aos eixos das viaturas, naquelas estradas de areia  e atingimos a localidade onde ainda se encontrava um Chefe de Posto Administrativo, com quatro ou cinco sipaios. Não me lembro do nome do Chefe de Posto que, como se pode ver nas fotos, tocava muito bem viola, tendo animado, desta forma, algumas daquelas noites em que, por lá, permanecemos.
O Chefe de Posto, tocando viola
Identifico: "Mano", Pinheiro, ?, Mendes (que cantava muito bem fados de Coimbra), ?, Martins, David, ? e Sequeira
Sentado, ostentando as famosas e alentejanas suíças, o FurMilInf Pontes 
"Mano", Pinheiro, Mendes  - a seguir 3 caras de que não recordo os nomes - David, Sequeira, Leite, Almeida e um último, que também não identifico.
Leite, Varandas, ?, Agostinho,?, e o SoldCondAuto "Sarilhos", quando cantava um fado
Não sei o que sucedeu depois, embora possa presumir ter recolhido a possível informação e desencadeado qualquer tipo de actividade. Não me lembro qual.

Apenas me recordo de ter sido avisado pelos condutores-auto da inexistência de gasolina na localidade - havia um posto que já não era abastecido há bastante tempo - os camiões-tanques da gasolineira não se atreviam a ir  ao local - restando-nos, a determinada altura, a gasolina estritamente necessária para o regresso (deixei alguma ao Chefe de Posto, recordo-me, para a única viatura que lá existia). A localidade havia sido praticamente abandonada pela população, quer de origem europeia, quer de origem africana, mas o Chefe de Posto, manteve-se nela, apesar do risco.
Coluna em ordem de marcha
Dadas as circunstâncias relativas ao combustível decidi terminar as operações que desencadeara - não me  recordo se com qualquer êxito - e regressar ao aquartelamento do Lucusse.

Quando cheguei ao quartel tive a curiosidade de verificar o número de quilómetros percorridos e registados no conta-quilómetros: foram cerca de 2000 Km o que, à primeira vista pode parecer excessivo, mas não é. Eram dias inteiros a andar de viatura por aquelas terras onde se não via vivalma.
Uma saída (ou, talvez, o regresso)
Com grande surpresa, mas com enorme alegria(1), verificámos já lá se encontrar a Companhia que nos viera render, encontrando-se já transferido todo o material com excepção daquele que vinha comigo. A minha tarimba já tinha outro ocupante e os meus objectos pessoais encontravam-se arrumadas num canto, graças aos cuidados dos dois soldados que ajudavam na Messe (o Horácio e o "Viana"). Assim, e tal como os meus soldados, dormi, mais uma noite, no chão. Feita a transferência em falta, salvo erro no dia seguinte partimos para o Luso - onde chegámos no Dia de Natal de 1966 e onde tomámos conhecimento do ataque à Vila de Teixeira de Sousa - para embarcar num comboio do Caminho de Ferro de Benguela, que, numa viagem de cerca dois dias e meio (se bem me lembro) nos levou até Benguela onde rendemos a tropa local.

Pouco tempo depois, fui destacado para a Vila do Cubal. 
VETERANO
(1) - Devo fazer uma confissão: recordo bem um estranho e dificilmente definível sentimento, misto de antecipada saudade e, também, de alguma pena, ao ver chegado o dia da partida. Deixava, para sempre, um lugar que, apesar de inóspito, havia ajudado a construir e onde, num pequeno obelisco, ficara a memória do "Palhaço".
V. 

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