Teve, por Unidade mobilizadora, o Regimento de Artilharia Ligeira 1, de Lisboa. Constituído por três Companhias operacionais e uma de comando e serviços - C.ART 738, C.ART 739, C.ART 740 e CCS - desembarcou em Luanda no dia 18 de Janeiro de 1965. Regressou à Metrópole em 1967, aportando ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a 9 de Março.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Escoltas

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1965
Quartel do Tôto

No perímetro do Tôto, para além da CArt 739, encontravam-se aquartelados, em 1965, um Pelotão de Apoio Directo (PAD), inicialmente comandado pelo Alf Braga e, posteriormente, pelo Ten Pesca e cuja missão consistia em apoiar o Subsector em tudo o que respeitava a material rolante e um Destacamento da Intendência (DI), inicialmente comandante pelo Alf Lucena e, mais tarde pelo Alf Emanuel Fronteira e que recebia, armazenava e distribuía pelas diversas Companhias os géneros alimentares, fardamento, artigos de higiene, tabaco, enfim, tudo quanto era necessário ao normal dia-a-dia da tropa.

Esta circunstância obrigava a que, de Luanda e com a uma regularidade praticamente quinzenal, partissem, com destino ao Tôto, grandes colunas de viaturas civis com os abastecimentos. Estas colunas eram escoltadas por militares das diversas unidades por onde iam passando, até chegarem ao destino. Permaneciam no Tôto o tempo necessário à descarga – geralmente um ou dois dias - e regressavam, escoltadas até Quibala, habitualmente por dois Grupos de Combate da CArt 739.

Estas operações de escolta não eram muito agradáveis de realizar. Estabeleceu-se, por isso, uma escala de escoltas independente da escala da actividade operacional propriamente dita. A protecção desta coluna, que na estrada se estendia, às vezes, por quilómetros, era uma autêntica operação de guerra, envolvendo, pelo menos, dois GC equipados com armamento pesado de infantaria, os meios-rádio possíveis, vários “Unimogs” e, pelo menos uma “GMC que, carregada de sacos de terra, seguia à frente como protecção contra minas. Fazíamos a escolta até Quibala e regressávamos quase imediatamente, tentando ainda aproveitar a luz do dia.

Apenas mais um apontamento com o seu quê de superstição: à saída dos aquartelamentos, uns quantos quilómetros percorridos, fazia-se a “experiência da Breda”. A "Breda" era uma excelente metralhadora pesada, de tiro muito preciso, embora de cadência relativamente lenta. Usávamo-la montada num suporte metálico com uma antepara em chapa de ferro bastante espessa que servia de protecção ao atirador. O municiamento era feito por meio de láminas que se colocavam lateralmente. A paragem da coluna para a experiência era “obrigatória”, mas implicava sempre uma explicação prévia aos motoristas das viaturas civis, para que não pensassem tratar-se de algum ataque inimigo.

Estrada Tôto-Quibala - 1965
Regresso da coluna de reabastecimento

domingo, 22 de novembro de 2009

Operação Confirmação

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Algures no Norte de Angola - 1965
Pequeno grupo, do 4º. Grupo de Combate da CArt 739, com o cão de guerra Rex,
no regresso de uma operação nocturna

OPERAÇÃO CONFIRMAÇÃO

Chamou-se “Operação Confirmação” e foi planeada e executada pela CArt 739.

Aquando da chegada à Zona de Intervenção Norte (ZIN) e distribuídas que foram as diversas Companhias pelas respectivas áreas de quadrícula, a CArt 739 recebeu, por acréscimo, uma AIL, isto é, uma Área de Intervenção Livre.

As AIL eram grandes zonas ainda não batidas pela tropa de Infantaria e atribuídas à Força Aérea que, de conformidade com o seu próprio planeamento, desencadeava algumas acções de flagelação, sobretudo bombardeamentos. A partir do momento da atribuição, a Força Aérea deixava de intervir e a responsabilidade passava para a tropa que recebera a área em causa.

A “Operação Confirmação” resultou num enorme esforço para dois Grupos de Combate – julgo que, com o GC que eu comandava esteve também o 2º. GC, embora não tenha a certeza – que se mantiveram acampados em base avançada mais de um mês. Da base saíam, num ritmo muito elevado, vários pequenos grupos de militares, por vezes com o apoio de uma pequena unidade de cães de guerra que fora deslocada para o Tôto. Estes pequenos grupos nomadizavam um ou dois dias, não mais, e regressavam. Sempre que possível e se o luar permitia alguma visibilidade nocturna, operava-se de noite.

Permito-me aqui dizer que, contrariamente ao que, geralmente, se vê no cinema, a nomadização em zonas de floresta, nas noites sem Lua, é muitíssimo difícil. Nada se vê, atrapalhámo-nos uns aos outros e só por acaso se estabelece qualquer contacto com o IN, porquanto, na situação referida e noutras semelhantes, não nos conseguimos aperceber onde ele se encontra. Pelo contrário, no período entre os Quartos Crescente e Minguante, a progressão é possível, pode-se andar mantendo o silêncio, o calor não nos apoquenta e as dificuldades de visão existem em iguais circunstâncias para ambos os lados.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

In Memoriam --- 04 - Francisco da Costa Salema

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Tôto - Aeródromo de Manobra - 1965
Despedida do Cap Art Fernando Mira
(Agachados, da esquerda para a direita: Santos, Cortes, Salema, Mouga; De pé, da esquerda para a direita: Pontes, Serrador, Ventura, 1º. Sarg Ferreira, Veiga, Cap Mira, 2º. Sarg Vitorino, ?, 2º. Sarg Almeida)
Pelas razões já fartas vezes aqui apontadas conheci o Salema apenas quando cheguei ao Tôto. O Salema tinha-se juntado à CArt 739 por altura da IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), oriundo, presumo eu, da Administração Militar, já que a sua especialidade era a de Vagomestre. E, no exercício desta função seguiu para Angola.
A verdade, porém, é que não possuía qualquer jeito para a Vagomestria. Invejava, disse-mo uma ocasião, os seus camaradas furriéis que, por força da actividade operacional, saíam para o mato, numa frequência esgotante. Por várias vezes pediu ao Comandante da CArt 739 – na altura, o Cap Art Fernando Mira, que o substituísse na função, mas este não se dispunha a ceder, talvez porque as hipóteses de escolha não sobejassem. Entretanto, era tão notório o desinteresse que o Cap Mira teve que render-se à evidência e decidiu substituir o Salema pelo João Mouga (o que se revelou, mais tarde, não ter sido uma escolha particularmente feliz: o Mouga era de Infantaria e pouco ou mesmo nada percebia do assunto) e encaminhou o Salema para o 1º. Grupo de Combate.
Foi, na actividade do seu G.C. que se confirmaram as suas grandes qualidades de militar. Dedicado, empenhado, amigo dos seus soldados, capaz, até, de dar a vida por eles, tinha a atitude do soldado que não só aceita a inevitabilidade da guerra, como entende estar a cumprir um dever patriótico. Sem jamais considerar o risco que corria e vivendo, com particular satisfação – quiçá, mesmo, alegria – as várias aventuras daquela “sua” guerra, exibia um certo tique marialva – o que se lhe perdoava por ser ribatejano de gema – usando, no cano da bota, a sua faca de mato.
Julgo que não haverá quem se não recorde – pelo menos de ouvir dizer – da celebérrima “pega” de uma pacaça, a que o obrigou um animal que investira sobre o Unimog e lhe não dera tempo a nele se refugiar.
Terminada a comissão, enveredou pela vida civil na sua Almeirim natal e, praticamente, esteve presente em todas as nossas confraternizações. Encontrámo-nos pela última vez em 2003, apresentando já os sinais da terrível doença que o consumia. O “nosso Salema”, no carinhoso dizer dos seus ex-soldados, faleceu na semana imediata, quase como se tivesse ido ao convívio para se despedir dos seus camaradas de sempre!
Extracto da O.S. nº. 205, de 22/11/1965, da CArt 739:
Louvo o Furriel Miliciano Francisco Pinto Cardoso da Costa Salema, porque, sentindo-se mal preparado e com poucas qualidades para o bom desempenho das funções da sua especialidade - Vaguemestre - mas desejando ser útil à sua Companhia, se ter oferecido para servir como Atirador, tendo-se revelado desde há cerca de oito meses em que vem desempenhando funções de Comandante de uma Secção de Atiradores, um militar extraordinariamente desembaraçado no comando de tropas, corajoso, sempre voluntário para qualquer missão, mesmo perigosa, e com notável espírito de sacrifício. Alia a estas qualidades o ser um militar muito disciplinado e de esmerada educação cívica, bom camarada, tendo, pelas suas virtudes, merecido a consideração e amizade dos seus subordinados, camaradas e superiores.
(aditado em 26 de Março de 2010)
VETERANO
P.S. – Mesmo numa razoável colecção de fotografias – como é o caso da que possuo – há sempre falhas. No caso presente, a única foto em que o Salema está presente é a do grupo que encima este postal.
PPS – Pese embora ter já pedido ajuda quanto à identificação do nosso camarada (em pé, o 2º. a contar da direita) ninguém – repito: ninguém! – me deu, até agora, qualquer informação. O que é pena!
V.


domingo, 8 de novembro de 2009

A Leste...Algo de Novo! - Parte 2

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Lucusse - Leste de Angola - 1966
Caserna do 4º. Pelotão
Medições no terreno e preparação de equipamento de apoio à construção


A CONSTRUÇÃO DO AQUARTELAMENTO

Quando a Cart 739 chegou ao Lucusse deparou-se-lhe um cenário desolador! Para além do armazém de cereais a que já fiz referência e, creio eu, uma casa onde residia o Chefe do Posto, nada mais havia.

A tropa, com o habitual e característico “desenrascanço”, instalou-se, como pôde, no armazém de cereais e em tendas improvisadas na área circundante, procurando rodear-se das pequenas “comodidades” habituais nestas circunstâncias: um cunhete de munições a servir de mesa-de-cabeceira, mais dois caixotes e aí tínhamos uma mesa ou outras peças que tais.

Entretanto, o Comando da Zona providenciou no fornecimento de um quartel “JC”. Para quem não saiba, este equipamento que, por qualquer razão que desconheço se designava “JC”, era um conjunto de peças de madeira tratada, com o qual se poderia construir uma série de edifícios com os mais variados fins: casernas, comando, messes, parque-auto, etc.. Recebeu-se, também, uma razoável quantidade de sacos de cimento que se destinavam a fazer aquilo que era designado por “solo-cimento”, isto é, uma mistura de cimento com a terra, mais ou menos arenosa, do local. Quer o material, quer o cimento eram exíguos para um quartel com um mínimo de condições. Por sorte nossa, próximo do armazém de cereais, encontravam-se guardados numa espécie de arrecadação mal amanhada, diversos materiais igualmente “JC” e, ainda, um bom número de sacos de cimento, já empedernido pelo tempo. A construção a que o material se destinava nunca se fizera e o material estaria, por lá, meio esquecido. Como é evidente, aproveitámos todo aquele material “caído do céu”, para melhorar as nossas construções.

Várias fases da Construção

As duas asnas de topo, já levantadas

Levanta-se a última asna

Está pronto o "esqueleto" da caserna