Teve, por Unidade mobilizadora, o Regimento de Artilharia Ligeira 1, de Lisboa. Constituído por três Companhias operacionais e uma de comando e serviços - C.ART 738, C.ART 739, C.ART 740 e CCS - desembarcou em Luanda no dia 18 de Janeiro de 1965. Regressou à Metrópole em 1967, aportando ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a 9 de Março.


quarta-feira, 31 de março de 2010

In Memoriam --- 06 - Fernando Babo


Dois camaradas, dois bons amigos

Fernando Babo e Carlos Fonseca

"O criador deste blogue comunicou-me há quatro dias que o meu antigo camarada Babo falecera em Setembro de 2009, conforme informação de sua filha Sandra.
Não o sabia doente e a informação teve o efeito de um inesperado murro no estômago. Decidi, então, alinhavar estas linhas evocativas da nossa vivência conjunta em Angola, e pedir o habitual e generoso acolhimento do “Veterano”.
Conheci o Fernando Babo – Fernando Pinto da Rocha Babo, de seu nome completo – quando, em Setembro de 1964, me apresentei no RAL 1, para integrar o BART 741, em formação.
Acabámos por ficar na mesma Companhia (a CArt 738) e fomos cimentando uma camaradagem ao longo do tempo que acabou por nos tornar amigos. De resto, não era difícil ser amigo do Babo. Creio que não havia um único militar da Companhia que não sentisse simpatia por aquele furriel-miliciano equilibrado e sensato.
A estas qualidades acresciam uma esmerada educação e uma apurada sensibilidade. Vou referir duas “histórias”a título de exemplo.
É do conhecimento geral que nos quartéis era normal o uso de uma linguagem que não primava pela elegância, sendo vulgar o uso do palavrão. A excepção na nossa Companhia era o Babo. Quando achava que alguma brincadeira estava a passar das marcas, utilizava uma expressão que nunca mais esqueci: olhava para o “abusador” e dizia-lhe com a sua pronúncia muito característica: “ Vai morder o S. João na pila!”. Note-se que não estou a adoçar a frase, usando um termo diferente; era mesmo assim, com delicadeza, que se expressava.
A sensibilidade manifestou-se, por exemplo, na comemoração do seu primeiro aniversário, em Lucunga.
Cada oficial e cada sargento tinha criado o hábito de, no dia do aniversário, oferecer um jantar com ementa melhorada – normalmente frango de churrasco - a todos os outros oficiais e sargentos.
Era uma ocasião em que o comandante da Companhia, capitão Rubi Marques, quebrava a rigidez do RDM (Regulamento de Disciplina Militar) e, excepcionalmente, autorizava o convívio entre aquelas duas classes, honrando-nos também com a sua presença. Habitualmente, cabia-lhe a tarefa de, em nome de todos, fazer um pequeno discurso de parabéns, que também fez nesse dia.
Depois, foi a vez de o Babo tomar a palavra para agradecer. Ao referir o significado que aquela reunião tinha para ele, frisou que, para todos os efeitos, naquele dia nós éramos a família que substituía a família verdadeira, forçadamente ausente, acentuando que, dadas as circunstâncias, o cap. Rubi Marques era uma espécie de segundo pai.
Foi então que, comovido, o nosso comandante – com fama (e proveito) de militar puro e duro – mostrou a sua faceta mais humanista. Comovido pela sensibilidade natural que o Fernando Babo pusera no discurso que acabava de ouvir, e para não chorar diante de todos nós, levantou-se inopinadamente, abandonou a sala, saltou para uma bicicleta que estava encostada à parede e, a pedalar vigorosamente, saiu do quartel – e da protecção do arame farpado - pela estrada (picada) fora, perante a surpresa de todos.
Acabámos por ir buscar uma viatura e recolhê-lo, por uma questão de segurança.
Era assim o efeito que a delicadeza tocante do Babo produzia nos outros.
Convivi com ele quase diariamente de Setembro de 1964 até Fevereiro de 1966, altura em que o BART 741 foi transferido para o Quanza-Sul. A CArt 738 ficou aquartelada na Gabela, mas o 4º pelotão, a que pertencia a secção que o Babo comandava, foi colocada em Porto Amboim.
Nesse último ano de comissão, apenas convivíamos algumas horas, quando lhe calhava comandar a “coluna” que vinha à Gabela. A excepção foi um mês em que, por troca com o furriel Miranda Dias, estive em Porto Amboim. Voltámos a ter muitas horas de conversa, normalmente sentados em frente ao mar. Era então que falávamos dos dias que custavam a passar e, já casado, ele se queixava das saudades da sua Fernanda.
Terminada a comissão, não voltou connosco. A chamada de familiares, foi para Moçambique com a esposa que, entretanto, se lhe tinha juntado em Luanda.
Embora tivéssemos falado algumas vezes ao telefone, só voltamos a encontrar-nos em Fafe, em 1994, no decorrer de um almoço com outros ex-militares da Cart 738, onde compareceu acompanhado pela esposa.
Esta é a minha homenagem a um amigo. A um Homem bom.


Confraternização de elementos da CCaç 715 (aquartelada na Missão, do Bembe) e da CArt 738
Fernando Babo, ao fundo, com uma garrafa na mão
Carlos Fonseca
CArt 738
«clique nas fotos, para ampliar»

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ainda a Operação Helitransportada. A descrição

Há quase um ano, em Abril de 2009, publicámos aqui a fotografia de uma operação helitransportada de que participou o 4º. Grupo de Combate, algures, no Norte de Angola.

Um dos nossos camaradas da escolta de viaturas tirou-a, a nosso pedido.

Muito recentemente, quando vasculhávamos os nossos arquivos, encontrámos umas quantas fotocópias que, há bastantes anos, nos foram remetidas pelo nosso querido amigo, o ex-Furriel Salema. Era o seu contributo para um livro, a escrever-se um dia, com a história da CArt 739, livro que nem iniciado foi e que este modesto blogue procura substituir.

Dentre as referidas fotocópias encontrámos umas quantas que foram extraídas do livro “Nas Três Frentes Durante Três Meses”, da autoria do jornalista do “Diário de Notícias” Martinho Simões. Relata, o autor, uma operação helitransportada, a que assistiu na companhia do, então, comandante-chefe das Forças Armadas em Angola, general Andrade e Silva.

Damos a palavra ao jornalista.

“As forças de assalto actuaram em perfeita segurança, beneficiando da acção do dispositivo da quadrícula, que organizara a contenção: um anel destinado a impedir a fuga dos terroristas; outro para evitar o seu reforço.

Viu, também, o jornalista a extraordinária eficácia dos helicópteros – instrumentos indispensáveis para este tipo de luta. A surpresa, a rapidez de colocação das tropas, a frescura dos combatentes são elementos essenciais para se alcançar o êxito, quando as dificuldades do terreno e as distâncias favorecem o inimigo. Eles são, na verdade, fundamentais para a obtenção de uma surpresa sem a qual esse êxito é muito aleatório e difícil de conseguir.

  • Chegada à base temporária

Muito cedo, um «Nord» descolou da Base Aérea de Luanda, rumo ao Norte.

A bordo, o general Andrade e Silva, os generais Soares Pereira e Almeida Viana, os brigadeiros José Vitoriano e Reis; o tenente-coronel Rangel de Lima; e o jornalista.

Algures, no Norte, o bimotor aterrou. Na placa de estacionamento, os helicópteros aguardavam.

Imediatamente, sem perda de um segundo, o general Andrade e Silva inteirou-se do modo como se iniciara a operação, para verificar se a execução estava de acordo com o planeamento antecipadamente aprovado.

Segundo o jornalista Martinho Simões, estão presentes, à direita, os generais Andrade e Silva, Soares Pereira e Almeida Viana. Também presentes os brigadeiros Vitoriano e Reis. Os oficiais do BART 741 estão, de frente, vendo-se: o Comandante, Ten-Cel Cabrita Gil estendendo a mão sobre as cartas (um caracteristico gesto seu), logo atrás encontra-se o 2º. Comandante, o Major José Soares e, ao fundo, de óculos, o Cap Fernando Mira, comandante da CArt 739.

Os helicópteros rolaram para a pista e subiram na vertical.

Por dois deles, visando razões de segurança, se distribuíram os oficiais generais. Acompanhei o comandante-chefe.

A rasar o solo, confundindo-se com a vegetação e os tons cinzento-acastanhados da superfície, os aparelhos dissimulavam-se através das linhas dos vales. Depois, flectiram, bruscamente, para a esquerda.

Poucos minutos volvidos, a base temporária estava a nossos pés, as viaturas alinhadas e as forças preparadas para a acção.

Poisámos.

  • O ataque principia

……………………………………………………………………………………………..

As pás dos helicópteros giravam, na iminência da descolagem.

As equipas de combate correram para os aparelhos, vultos mal delineados na sombria agitação dos asfixiantes turbilhões de terra e plantas, que confundiam os contornos das coisas.

A primeira onda de ataque perdeu-se no horizonte. Ao ruído dos motores sucedeu a reconfortante acalmia do silêncio da espera.

Por escassos minutos, todavia, Os helicópteros regressavam e tornavam a partir. E outra e outra vez, até que, na base temporária, apenas ficassem as viaturas e os soldados que as guardavam.

  • Na «zona de morte»

Como os combatentes, também nós voávamos ao encontro do inimigo.

Entrámos na «zona de morte» e o general Andrade e Silva mandou que a altitude fosse diminuída para menos de vinte metros: queria que o jornalista se apercebesse, com nitidez, da acção, que se desenrolava lá em baixo.

Distingui os homens da primeira arrancada estendidos no solo, ao abrigo de pedras ou de simples arbustos, protegendo os camaradas que chegavam.

Os helicópteros nem tocavam no terreno. Vinham de súbito e os atacantes saltavam, de três ou quatro metros. Corriam agachados e tomavam posições.

Do ponto de desembarque, a manobra desenvolvia-se como uma estrela que vai alargando as pontas. Os soldados exploravam o terreno e, cuidadosamente, progrediam em pequenos lanços.

Saltando sobre o objectivo, na chamada «zona de morte»

A azáfama da guerra estava perante mim. Uma azáfama perfeitamente ordenada e controlada, cada oficial ou soldado consciente da sua missão, os mínimos gestos produto de um longo treino, qualquer movimento resultante da reflexão e do estudo.

A Arte de Combater apresentava-se na sua mais pura expressão e o quadro revestia-se de uma terrível beleza.

Circulámos demoradamente, antes de nos afastarmos em direcção às outras áreas da operação.

O planeamento cumpria-se em todos os pormenores. Não havia uma falha, uma hesitação. Os homens, as armas e as máquinas faziam um todo homogéneo, que significava, para o inimigo, a derrota inevitável."

(Com a devida vénia)

quinta-feira, 11 de março de 2010

CONFRATERNIZAÇÃO 2010 - A Juventude dos Indefectíveis...

CArt 738
CArt 739
CArt 740
CCS
Fotografias cedidas por Foto Arestal - Sever do Vouga

PS
Poderá perguntar-se o que motiva tanta gente a reunir-se 43 anos depois! Só quem lá combateu é capaz de responder!
Mas, quem não esteve, veja aqui a última parte do filme K-19 e, talvez, possa compreender!
V.
«Clique nas fotos, para ampliar»

segunda-feira, 8 de março de 2010

CONFRATERNIZAÇÃO 2010

À chegada...

Anteontem, Sábado dia 6, reuniram-se num restaurante de Couto de Esteves – uma Freguesia do Concelho de Sever do Vouga – 97 ex-combatentes do Batalhão de Artilharia 741, a que se juntaram mais dois indefectíveis do PCAÇ 967. Se considerarmos, como é dever fazer, os familiares que os acompanharam, ascendeu a 196 o número dos adultos presentes.

Alguns camaradas, com cuja presença contávamos, não puderam comparecer. Nuns casos, razões de saúde própria ou de familiares próximos, noutros, em virtude da distância a percorrer ser já excessiva, tendo sobretudo em conta a idade que, todos nós, vamos tendo e, noutros casos ainda, devido à previsão de mau tempo que, pelo menos localmente, se concretizou em frio, vento forte e alguma chuva, como foi o caso do Cel Morna – um dos ex-comandantes da CArt 739 - que viajaria da sua Madeira natal e que se viu obrigado a desistir da passagem que tinha já adquirido.

A confraternização iniciou-se às 11 horas com a Missa “In Memoriam”, rezada pelo Pároco da localidade, o Pe António Cabeço, que soube muito bem interpretar o sentido da celebração, traduzindo-o numa participada homilia.

Seguiram-se o repasto, as fotografias individuais e de grupo, o “bailarico” muito animado, o lanche para confortar os estômagos durante a viagem de regresso e, por fim, a distribuição do bolo comemorativo, acompanhado de bom espumante.

Aproveitámos os momentos finais do convívio, para transmitir algumas notícias – sobretudo os cumprimentos de muitos camaradas ausentes, mas presentes em espírito – e, também, para nos recolhermos num momento de silêncio pelos camaradas falecidos. A finalizar, cantaram-se os “Parabéns” pelo 43º. aniversário do nosso regresso.

A reunião foi-se desfazendo a pouco e pouco, com promessas mútuas de reencontro, daqui por um ano!

O almoço

Uma curiosa composição fotográfica da CArt 740, da autoria do Sargento Peniche

O baile...

Ouvindo as notícias...

Com dois camaradas em fase de convalescença de doença grave, mas que, mesmo assim, quiseram estar presentes

Despedidas...

VETERANO

PS - As fotos foram, gentilmente, cedidas por um familiar, não fazendo, pois, parte da reportagem fotográfica.
V.
«clique nas fotos, para ampliar»