Teve, por Unidade mobilizadora, o Regimento de Artilharia Ligeira 1, de Lisboa. Constituído por três Companhias operacionais e uma de comando e serviços - C.ART 738, C.ART 739, C.ART 740 e CCS - desembarcou em Luanda no dia 18 de Janeiro de 1965. Regressou à Metrópole em 1967, aportando ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a 9 de Março.


sábado, 19 de junho de 2010

O Circo Da Páscoa

Como facilmente se compreende, a componente logística era essencial para manter em fun­cionamento uma unidade com 163 militares, nomeadamente no que se refere ao reabasteci­mento de géneros alimentícios, bem como ao transporte de correio.

O referido reabastecimento era feito duas vezes por semana – normalmente às terças e quintas-feiras - no Toto, a 70 kms. de Lucunga. Por vezes, o Nord Atlas, avião com grande capacidade de carga (uma espécie de C-130 da actualidade), voava para o Toto à sexta-feira, em vez de quinta e, então, também a coluna fazia a deslocação nesse dia.

Pelo menos uma vez por semana a deslocação incluía uma ida ao vale do Loge, onde estava o comando do Batalhão.

As viagens eram demoradas, não só pelo mau estado da “estrada”, que piorava substancial­mente durante a estação das chuvas, mas também pelo degradado parque automóvel, a que o Veterano se referiu já num dos últimos textos que aqui publicou.

Na CArt 738, os veículos estavam imobilizados na sua maioria (serviam para retirar peças para reparar avarias nos que ainda circulavam), além de serem quase todos herança da II Grande Guerra. (Em meados de 1965, recebemos Unimog's novos que vieram alterar com­pletamente a situação).

Na sexta-feira 16 de Abril 1965, antevéspera da Páscoa, calhou-me comandar a escolta da pequena coluna de reabastecimento, constituída por um velho “jipão” e um camião GMC, da mesma época.

Esta viagem foi uma das que incluiram um salto ao Vale do Loge. A “estrada” entre o Vale do Loge e o Toto, era razoável, sobretudo se comparada com o resto do percurso.

Porém, a meio do caminho de regresso ao Toto começou a cair uma chuva diluviana que em breve transformou a via num rio, o que obrigou os condutores a diminuirem a velocidade. Talvez por isso, o motor do “jipão” começou a aquecer, o que levou o condutor a parar para ir verificar o nível de líquido do radiador. Todavia, mal tinha tirado a tampa quando uma mistura de água e vapor se elevou do radiador, levando-o a descontrolar-se e a deixar cair a referida tampa, que foi levada pela corrente.

Entretanto, quase tão depressa como começara, a chuva parou e o sol voltou. Da tampa do radiador é que não houve mais sinal, apesar das buscas intensivas que fizemos.

Ora, nestas circunstâncias, o “jipão” não podia prosseguir. Decidi então enviar a GMC ao Toto para pedir ajuda, enquanto ficava no local a aguardar.

Algum tempo depois chegou um reboque do PAD (Pelotão de Apoio Directo), que levou o “jipão” para, no quartel do Toto, remediar a situação. Entretanto, a CArt 739 já tinha envia­do um rádio para Lucunga a comunicar a situação. Não me recordo dos pormenores, mas não terá sido fácil resolver o problema, que só ficou solucionado no dia seguinte, já tarde, pelo que só partimos para Lucunga no dia 18, bem cedo.

FurMil Silva, Sold Cond-Auto "Marova", Sold Morgado, Sold João Palhares (o "João da Adelaide"), Fur Mil Fonseca e Sold ????.

Era domingo de Páscoa, como já foi dito mais acima, e tive a ideia (infeliz, como se vai ver) de entrar em Lucunga comemorando, da forma possível, a data. Assim, parámos pouco antes da chegada, cortámos ramos de palmeira que foram colocados em arco nas viaturas, e entrá­mos no quartel gritando : “Hossana! Hossana! O Senhor ressuscitou!”

De uma maneira geral, o pessoal achou graça. Quem não achou graça nenhuma foi o capitão Rubi Marques.

E lá levei uma forte reprimenda, com o aviso de que “aquilo” não era um circo.

Mas, pelo menos, não levei com o “auto das passas”. Também desta vez fiquei incólume

Carlos Fonseca

CArt 738

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