Teve, por Unidade mobilizadora, o Regimento de Artilharia Ligeira 1, de Lisboa. Constituído por três Companhias operacionais e uma de comando e serviços - C.ART 738, C.ART 739, C.ART 740 e CCS - desembarcou em Luanda no dia 18 de Janeiro de 1965. Regressou à Metrópole em 1967, aportando ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a 9 de Março.


sábado, 28 de agosto de 2010

In Memoriam ---10 - Eduardo Luís Pontes da Silva

Tomei conhecimento da morte do Pontes no dia 28 de Novembro de 2007. Falecera no dia anterior e o Catuna, camarada comum que, com ele, pertencera à equipa de Sargentos do 2º. GC, contactou-me telefonicamente. Sucedeu que me deslocara à Guarda, tentando resolver um importante assunto de um familiar próximo, sendo materialmente impossível deslocar-me até Azaruja a tempo de assistir ao funeral. Como lamentei não ter podido estar presente na última homenagem que os amigos do Pontes lhe prestaram!

Como atrás escrevi, o Pontes fazia parte do grupo de Sargentos do 2º. GC, grupo esse constituído logo no RAL 1 e sempre mantido uno e indivisível (salvo num pequeno período de tempo, lá para o fim da Comissão, em que o Catuna veio substituir, ao meu GC, o 2º. Sargento Santa), graças a um fortíssimo sentido de camaradagem, único na CArt.. Não sei se por todos eles estarem, de algum modo, ligados ao Sul de Portugal (o Pontes e o Cortes, oriundos do Alentejo, o Catuna é algarvio e o Palaio, embora nascido na Figueira da Foz viveu quase sempre no Seixal).

E é, precisamente, ao Eduardo Palaio que dou a palavra nesta pequena homenagem póstuma.

"Chegámos ao pátio, eu, o Catuna e o Cortes – o comando do 1º. Pelotão da cart 739 – conhecido, por nós, por Que Es Adof – puro latim."

"Só faltava o Pontes que, dolorosamente, era a razão da nossa presença."

"Estava tudo cheio de gente, dentro e fora de casa. Quem conheceu o Pontes sabe que amigos, dos verdadeiros, companheiros fieis, é coisa que lhe não deve ter faltado na vida, no trabalho, na terra. Estava lá tudo, as ruas começavam a ficar desertas: amigos de infância, de escolaridade, de trabalho, familiares…Os que o tratavam por Eduardo, os que o cumprimentavam por sr. engenheiro."

"Porque carga d’água sentimos, eu o Catuna e o Cortes que éramos nós, de entre a multidão enlutada, os “grandes amigos”?

Porque “caraças” achamos que, só nós, o conhecíamos!? Não aquele que foi parceiro de carteira da 1ª. à 4ª. classe, não o que nasceu no mesmo ano na Azaruja, não o que, com ele, partilhou as festas, os namoros, as farras, o canivete que cortou o chouriço e o queijo, os dias de caça, os estudos, não o que foi “às sortes” no mesmo dia. Porquê?"

"Pois, não faz sentido. “Mas quem o conhecia éramos nós, os camaradas da tropa. Quem mais foi abalado pela notícia fomos nós. Quem mais o podia abraçar…” E assim estivemos."

"Depois que regressamos no Vera Cruz, fez quarenta e um anos, encontrei-me com o Pontes umas dez vezes e sempre a partilhá-lo com um grupo. E só o conheci tinha ele vinte e um anos. Porque é que temos a pretensão de sermos nós os grandes amigos? Não por acharmos que ele viveu desde então escondido do mundo e sem mundo anterior, não por estarmos convencidos de que só a nós foi revelada a rara qualidade humana do Pontes, no meu caso, por me ter salvo a vida, mas, simplesmente, por termos estado juntos na guerra."

"Chega dizer: esteve lá connosco e ficou para toda a vida."

"Até logo Pontes. Ninguém morre, vamos partindo. O querido Pereira foi agora, também. Amanhã vou eu encontrar-te: damos uma volta pelo rio Vamba, tiramos o suor e o medo num mergulho na lagoa do Toto, tu cantas aquela, com a tua voz de trovão, eu vigio o lume do mesongué e ficamos os dois à espera do Catuna que é bom no merengue."

"Talvez a coisa se explique se eu contar o que, nesse mesmo dia, o também Eduardo, genro do Pontes, nos disse, corpo magro, cara pálida, olheiras fundas, com voz clara e firme: “eu quero ir ao próximo almoço”."

"PS. Quem conheceu o Pontes sabe que é impossível alguém sofrer mais a sua ausência do que a mulher, a filha e o nosso amigo e tão amigo dele seu genro. Perdoem-nos, às vezes querendo ultrapassar a dor, dizemos coisas destas."

Eduardo Palaio in Jornal do Bart de 2008

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