Faleceu, no passado dia 14, o nosso Comandante, o Coronel de Artilharia José Francisco Soares.
No dia 16, cerca da uma hora da tarde, recebi um sms do Cel Nuno Anselmo informando-me ter lido, no Diário de Notícias daquele dia a notícia do falecimento do nosso Comandante, o Coronel José Francisco Soares.
1965 - Vale do Loge
Fará, precisamente neste corrente mês de Setembro, 46 anos, que se constituiu, no RAL 1, o Batalhão de Artilharia 741. Mobilizado para servir no Ultramar por aquela Unidade, ali conheci o, então, Major Soares que substituía interinamente o Comandante TenCel. Cabrita Gil, que se encontrava em Angola.
Recordo, com grande precisão, o modo como foi sugerida a distribuição dos oficiais pelas diversas Companhias – os vários futuros Alferes escolheram o respectivo Capitão – modo este pouco usual, pelo menos até à altura, e, um pouco mais tarde, a sua insistência na instrução de tiro, bem como a imposição, praticamente diária, de treino de campo, reduzindo, ao mínimo imprescindível a actividade dentro dos muros do quartel.
Por razões de doença já aqui referidas, não acompanhei a parte final da instrução do Batalhão, nem a viagem para Angola, voltando, apenas, a revê-lo quando me apresentei no Vale do Loge, sede do BArt, vindo da Metrópole.
Durante o comissão o relacionamento com o Cel. Soares foi, obviamente, longínquo, tanto mais que, ao fim de cerca de um ano na Zona de Intervenção Norte, foram as Companhias espalhadas pela Zona Centro, todas elas muito distantes umas das outras. Apesar disso, foi, sobretudo, nesta última Zona, que o Cel. Soares desenvolveu intensa e notável actividade no sentido da fixação em Angola dos nossos soldados, muitos dos quais por lá ficaram a trabalhar nas mais variadas profissões.
1995 - Confraternização na Batalha
Uma maior proximidade verificou-se somente após o regresso do BArt por via das confraternizações que se seguiram. Sempre que lhe era possível – e quase sempre foi – nelas esteve presente. Teve sempre para comigo algumas frases de simpatia pelo trabalho e empenho na organização dos encontros anuais. E foi no fim de um desses encontros, que ouvi a frase que, quanto a mim, melhor define o Cel Soares: após se ter despedido de nós e afastando-se em direcção à saída, comentou, para mim, o Cel. Fernando Mira – ex-comandante da CArt 739 – ali vai um Homem Bom!
Recordo, com comoção, o dia em que, numa das conversas prolongadas que mantinha comigo naqueles dias de confraternização, se referiu a quanto lhe custara tomar a decisão de me castigar, em Angola. Por um lado, pelo bom trabalho que eu e os meus subordinados vínhamos desenvolvendo, e por outro, pela razão que me assistia na atitude tomada. Para quem não saiba, fui o único oficial que foi castigado no Bart 741 e a história conta-se em duas palavras.
Estando, um dia, de serviço ao quartel do Tôto, a um soldado, que não era do recrutamento inicial do BArt mas que lá havia sido colocado por castigo, recusei o pequeno almoço e expulsei-o do refeitório por atitudes incorrectas e indisciplinadas. O soldado queixou-se ao comandante da companhia e foi levantado o respectivo auto, até porque, como era meu dever, também participei a ocorrência. O inquérito concluiu, por um lado, pela indisciplina, sendo o soldado objecto de castigo e transferido para outra unidade e por outro, pelo excesso de autoridade, pois eu não poderia proibir quem quer que fosse de tomar a refeição a que tinha direito. Daí o castigo que me foi aplicado.
1999 - Confraternização na "Aldeia de Santo Antão"
2000 - Momento de recolhimento em homenagem aos camaradas falecidos
O Cel. Soares foi figura central nas nossas confraternizações, havendo sempre vários camaradas que me perguntavam, quando se inscreviam, se o Comandante estaria presente. Pelo meu lado, era sempre minha preocupação telefonar-lhe pelo Natal apresentando cumprimentos de Boas Festas. Compareceu, pela última vez em Viseu, no ano de 2007. Em 2008 telefonou-me, muito comovido, pedindo para transmitir a sua impossibilidade de presença, por razões de saúde.
E foi precisamente num desses contactos telefónicos natalícios que soube que o Cel. Soares havia caído de tal modo que batera fortemente com a cabeça. Fôra internado de urgência nunca, porém, recuperando totalmente as faculdades. Ultimamente, tanto quanto fui sabendo – telefonava com alguma frequência a saber do seu estado - vivia numa espécie de letargia, embora consciente.
2007 - Em Viseu. A sua última presença
Paz à sua alma!
VETERANO
2 comentários:
Embora não seja inesperada, entristeceu-me a notícia da morte do Coronel Soares.
Contrastando com o comportamento habitual dos oficiais superiores relativamente à classe de sargentos, a que pertenci, recordo que, sempre teve uma relação de grande afabilidade nos contactos que mantinha com os militares do Batalhão.
Para não me alongar, lembro uma tarde em que me desloquei em serviço a Novo Redondo, onde se situava a sede do Batalhão.
Cumpridas as tarefas de que ia incumbido, estava numa esplanada com dois camaradas da CCS, quando o Coronel Soares se aproximou, trajando "à civil". Depois de fazermos a saudação da ordem, mandou-nos sentar e sentou-se também à nossa mesa, ficando numa conversa amena, enquanto esperava pela esposa, que estava no cabeleireiro, em frente à esplanada.
Quantos oficiais com o seu posto e responsabilidades de comando eram capazes de um gesto semelhante?
Houve outras ocasiões em que pude, por intervenção pessoal, testemunhar atitudes que atestam o elevado humanismo e sensibilidade deste nosso excepcional Comandante.
Pudesse eu escrever o mesmo de outros...
Que descanse em paz, este Homem bom!
C. Fonseca
Boa noite, sou filho De Antonio de Oliveira Soares,que era de Benguela,e o meu pai alistou-se como voluntário em 1961 e foi durante 4 anos, no Fortim de Vale do Loge Vigia, com o numero 71...O meu pai ainda esta vivo e procura ex companheiros...agradecia o ke dissessem qualquer coisa...
O filho:
Rui Soares- Peniche
Contacto 91 027 80 51
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