Teve, por Unidade mobilizadora, o Regimento de Artilharia Ligeira 1, de Lisboa. Constituído por três Companhias operacionais e uma de comando e serviços - C.ART 738, C.ART 739, C.ART 740 e CCS - desembarcou em Luanda no dia 18 de Janeiro de 1965. Regressou à Metrópole em 1967, aportando ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a 9 de Março.


Mostrar mensagens com a etiqueta Cervejaria Biker. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cervejaria Biker. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Lembranças de Luanda!

Nos dias que antecederam a partida permanecíamos no Campo Militar do Grafanil durante a maior parte do dia. Ao fim da tarde, a maior parte dos oficiais e sargentos, apanhava um dos transportes disponíveis e deslocava-se para Luanda.

Foram quatro dias, ou melhor, quatro noites em que muitos de nós se desforraram, por antecipação, dos longos meses em que iríamos viver longe do conforto e das distracções que a civilização proporcionava.

No que me diz respeito, e ao contrário de alguns dos camaradas do meu grupo que faziam comparações com Lisboa, gostei de Luanda logo ao primeiro contacto, salvo no que respeitava à desagradável humidade, a que, de resto, nunca me habituei.

Claro que para irmos directos aos sítios certos muito contribuiu o apoio do furriel-miliciano Rodrigues, que se revelou um cicerone de primeira água.!

Dos locais que então frequentámos, quero fazer uma referência especial à Cervejaria Portugália, que era uma espécie de ponto de encontro de tudo o que era tropa em Luanda. Quer se tratasse de militares aquartelados na cidade, quer se tratasse de pessoal em gozo de férias, em trânsito, ou em consulta externa no Hospital Militar, todos passavam pela esplanada da Portugália, que ficava debaixo de três frondosas árvores, numa espécie de ilha, na baixa da cidade. Costumava mesmo dizer-se, brincando, que a Portugália era a 5ª Repartição do Quartel General (note-se que o Q.G. tinha quatro repartições).

O local era também muito frequentado por cauteleiros, cujo negócio era, principalmente, o mercado negro de câmbio de escudos por angolares. Era uma transacção boa para ambas as partes, já que nós cambiávamos os escudos a um câmbio bem mais favorável do que ao balcão dos bancos, e eles revendiam-nos com boa margem de lucro, dada a quase impossibilidade de transferir a moeda angolana para fora do território.

Luanda 1965
Largo da Cervejaria Portugália

Para jantar, íamos à Cervejaria Amazonas um pouco mais abaixo. Outros lugares muito frequentados eram também, a Cervejaria Biker, com uma boa sala de bilhares, o Café Polo Norte, o Baleizão - célebre pelos seus excelentes gelados (embora os tais lisboetas achassem que os do Santini, em Cascais, eram muito melhores) - e a Pastelaria Versalhes, que ficava em frente à Portugália, mas que era um lugar mais “chique”.
Luanda 1965
Esplanada do Baleizão

As idas ao cinema também faziam parte do programa. E nunca esqueci a surpresa que tive quando entrei pela primeira vez no cinema Miramar. Talvez não haja nenhum outro cinema em que o nome corresponda tanto à realidade. A “sala” do cinema era uma enorme esplanada, com uma pala à maneira dos estádios de futebol e com uma vista deslumbrante sobre a baía.

Havia outros cinemas, mais ou menos modernos - o Alvalade, que ficava no Bairro com o mesmo nome (onde tinham residência os endinheirados do café, entre outros), era também muito confortável. Tinha a particularidade de ter uma espécie de painéis laterais amovíveis, que abriam ou fechavam de acordo com as condições do tempo.

Podia continuar a escrever sobre os quatro dias de Luanda, mas já me alonguei e o tema deste texto é a viagem para o Norte.
Luanda 1965
Cinema Miramar

Carlos Fonseca
CArt 738